terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Hello darkness my old friend

Pois bem, a chama apagou.

É claro que tudo é consequência das nossas ações, como um eterno karma que nem sempre parece ser justo. Deve ser, ou pelo menos me convenço de que é. Talvez seja uma forma de me consolar, assim como os religiosos tentam justificam as atrocidades desse mundo.
A chama, por fim, se apagou. Fui eu que a alimentei e fui eu quem a apagou. A metáfora é muito boa, porque as chamas precisam ser alimentadas e cuidadas para não morrer ou para não saírem do controle. Mexer com fogo é interessante justamente por isso. Não se pode assoprar com muita força para não apagá-lo, mas também não se pode deixar sem ar. Precisa de madeira, mas na quantidade e posição certa para não abafar as chamas. Você pode mexer com ele, manuseá-lo... Mas sem encostar com muita intensidade ou por muito tempo.
E eu acho que é a metáfora perfeita. Coloquei madeira demais e assoprei com força demais. As chamas saíram do controle e morreram.
Que porra essa metáfora significa? Muito simples... Eu voltei ao meu estado natural de espírito: estou amarga. Talvez, nesse momento, com as mãos queimadas.
É provável que eu volte a recolher lenha, mas não agora.. Ou talvez nunca.

Alguns acontecimentos recentemente me levaram a fazer a última fogueira em um lugar que gostava muito. Eu coloquei fogo e fiquei ali, observando e chorando feito uma menininha. Eu odeio chorar. Eu odeio sentir tanto e não ter controle sobre isso. Aquela foi a última fogueira, provavelmente. E nesse caso nem se trata de metáfora, foi realmente a última.
O problema é que nesse caso a culpa não foi minha. É claro que estou reagindo às situações de uma maneira não muito agradável, mas sou incapaz de ser mais evoluída e levar a tudo isso numa boa. Eu me decepcionei e fiquei muito (mas muito) irada. Não consigo entender como as pessoas têm essa facilidade toda em fazer tudo terminar em pizza, como se nada tivesse acontecido. Aí vem nego me dizer que não é tudo a mesma coisa, mas a partir do momento em que você convida a pessoa que te traiu pra comer na sua mesa, debaixo do seu teto. Isso não desce pela minha garganta. É como se eu estivesse tentando engolir uma bota.

Além dessa questão, eu caguei também com os relacionamentos. Aparentemente eu joguei tudo pela janela sem querer. Parece que as pessoas se tornaram ar e eu fiquei tentando prendê-los no meio dos meus dedos. Não rolou. Eles simplesmente não são cachorros para que eu os ensine a passear ao meu lado, com ou sem coleira. Não se adestra pessoas se você as ama. É possível, mas é abusivo.
Sabe a história de "deixe ir, se voltar é seu"? Então... Ninguém é propriedade de ninguém. Sem contar que não devemos ser segundas opções de ninguém, então as pessoas não têm que "voltar". Elas ficam porque querem e continuam porque querem.

O que me quebra as pernas foi que eu sempre trabalhei pra me afastar, ser o lado mais fraco da corda, ser quem espera menos. E de repente isso saiu do controle porque por alguma razão eu achei que seria legal me entregar. Por que? Porque os filmes dizem que é fofo? Porque os textos de Facebook dizem que existe justiça no mundo e que todo mundo merece coisas boas? Você é melhor que isso, Gabriela. Eu esperava mais de mim mesma.

Pois bem... Eu estou decepcionada e cansada. Queria que as coisas voltassem a ser como eram há dois meses atrás... É pedir muito? É, eu sei. Tem gente no mundo com problemas infinitamente maiores que os meus (que, olhando friamente, nem chegam a ser um problema efetivamente). Ninguém morreu, ta todo mundo fisicamente bem. Então, como eu tenho tentado me convencer, é pura frescura no rabo.

O fato é que eu preciso aceitar coisas que há anos estavam muito certas, mas eu parei de acreditar. A primeira é que eu fui feita para ser um ser humano sozinho. Eu vou morrer numa cabana fria com no máximo alguns cachorros como companhia. E os cachorros só estarão lá porque terão sido ensinados, ao contrário de seres humanos.
Eu preciso voltar a acreditar que serei sempre o braço em que todo mundo pode chorar, mas que o oposto nunca acontece. O mundo é cruel com pessoas fracas e é isso que eu me tornei nos últimos tempos.

É interessante... Há alguns dias fui assaltada e pensei realmente que iria morrer dessa vez. Reagi, dei uns tapas no ladrão e ele disse que ia atirar. Levantei as mãos e por um breve instante eu tive um medo terrível de morrer. É instinto, não? Nenhum ser vivo quer morrer e é por isso que somos incapazes de induzir nosso próprio afogamento num balde, por exemplo. Fomos programados para sobreviver e manter a espécie.
Mas nós, ao contrário dos outros animais, pensamos. E isso sempre foi nosso maior aliado e inimigo, além de nosso único companheiro. Nossa mente é a única coisa que vai com a gente quando morremos. Mas enfim, eu nem sei porque entrei nessa questão. Perdi um pouco do controle do que estava escrevendo (perceba como eu estou sabendo controlar bem as coisas).

Bom... Hello darkness my old friend

Um comentário:

  1. Gabriela, não fique assim, a chama vai se reacender.
    Mesmo te conhecendo só por seus textos, fiquei algum tempo pensando no que poderia dizer pra que você não se sentisse assim mas, não sou bom nisso.São melhores os conselhos de gente mais sábia que eu:

    "É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela."
    -Friedrich Nietzsche

    "Se as coisas são inatingíveis... ora!
    Não é motivo para não querê-las...
    Que tristes os caminhos, se não fora
    A presença distante das estrelas!"
    -Mario Quintana

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