sábado, 10 de outubro de 2015

O que eu quero da vida?

Quando eu tinha meus 14 anos, era a rainha da crise existencial. O ócio me fazia pensar muito e toda aquela energia adolescente era focada em questionar minha existência e pesquisar coisas aleatórias no google. Foi uma época de Deep Web, maçonaria, universo e religiões. Aprendi muita coisa por livre e espontânea vontade e me orgulho disso. Pra falar a verdade, eu sinto falta daqueles dias.
Não sinto falta das crises existenciais porque elas nunca me abandonaram. É claro que com uma vida mais ocupada, tenho menos tempo de ficar me martirizando. Eu me perguntava minha função no universo, na vida das pessoas e na minha própria vida. Acho que sou como um ratinho correndo em sua roda de exercícios. Enquanto mais corro, mais quero correr. O problema é que fico cansada de vez em quando, reduzo pra uma caminhada.. E depois volto a correr atrás de algo que nem sei o que é.
Esse é o ponto: o que estou perseguindo. Sou um leão, mas qual é minha caça? Me distraio com algumas coisas e tempos em tempos, mas quando o novelo de lã perde a graça, volto a correr atrás do nada. O que tem lá na frente? Eu deveria mesmo estar correndo?
De um tempo pra cá comecei a pensar que esse é um drama da minha geração. Percebo que muitas pessoas com quem convivo estão perseguindo algo com unhas e dentes, mas não sabem o que é - OU PIOR: acham que sabem. Você está se matando feito um workaholic, mas pra quê? Ganhar R$50 a mais e comprar um fone de ouvido? Sim, eu faço isso. Marco consultas médicas de final de semana para não faltar no trabalho, faço hora extra, quero tudo perfeito... Pra quê? Não, sério. Pra quê?
O que estou perseguindo no momento? Nada. Estou só correndo numa direção que julgo certo.
Eu achava que ocupar o corpo e a mente fariam esses questionamentos pararem. Realmente, eles melhoraram. Geralmente estou tão cansada que deito na cama e morro. Mas se eu tiver 10 minutos, ah...
Daí que percebi que me matar não estava resolvendo. Talvez eu precisasse de um momento só comigo mesma. Passei a sentar na cama para meditar sempre que sobrava um tempo livre. Pra falar a verdade, não consegui muito além de um momento de calma e relaxamento. Tenho melhorado, na medida do possível. E de quê adianta?
Comecei a fazer natação (outra vez - passei metade da vida na água). Quando entro na água, esqueço de todos os pensamentos. Bons, ruins, irrelevantes... Não importa. Isso é uma paz para a mente. Mas não dá pra passar a vida nadando de um lado pra um outro como um ratinho treinado.
A questão que venho pensando é: o que eu quero? Não quero ficar correndo desesperadamente no escuro, mas também não quero sentar e chorar. Quero subir na vida, mas quero apreciar coisas pequenas. Então, o que diabos eu quero: Viajar o mundo? Sair de casa? Ficar rica? Casar? Salvar o mundo?
Tudo. É isso o que quero.
Ao mesmo tempo, não quero nada.
Tá, eu sei que não faz sentido. Nem tudo faz. É como comer petit gateau ou romeu e julieta. Não faz sentido, mas é o que é. Tem dia que minha meta máxima, meu objetivo total é apenas dormir o máximo que eu conseguir. Tem dias que quero trabalhar, juntar uma grana e sumir daqui. Simplesmente sair e foda-se. Tem dias que eu só quero continuar correndo na minha rodinha de rato.
Acho que está faltando alguma coisa. Sinceramente, eu não sei o que é. Seria mais trabalho? Um relacionamento? Alcool? Drogas? Uma assinatura do Spotify? Netflix, talvez? Religião? Um psicólogo, provavelmente.
Se você fala isso pra alguém que não tem esses problemas, a pessoa acha que você está afogado numa depressão e que está prestes a se matar. Não, ninguém vai se matar. Sem contar que eu já tenho preguiça de ir pra natação, o que dirá pro psicólogo. Minha mãe já me mandou procurar um psicólogo várias vezes. Eu respondi que quem precisava de psicólogo era ela, mas o mais certo seria dizer que todos nós precisamos. Somos todos loucos.
O que é esse bichinho da inquietação que vive dentro da gente? O que é essa coisa que não te deixa dormir, mas não te deixa sair da cama? O que é isso que faz você rir de vines, mas que faz você almoçar sozinho no shopping? O que é isso que faz você querer viajar o mundo, mas nunca chega aos finalmentes? O que é esse fantasma que está observando dia e noite? Vemos criancinhas fofas e pensamos que elas vão sofrer quando se tornarem adultos. Por quê? Por que elas vão sofrer? Por que NÓS estamos sofrendo?
Não acho que eu sou infeliz. Minha vida vai bem para alguém de 19 anos. Estou quase terminando a faculdade, tenho um projeto paralelo bem encaminhado, publiquei um conto numa antologia, relações sociais em níveis aceitáveis, tretas familiares aceitáveis, trabalho legal, salário ok... Mas mesmo assim continuo escrevendo esse tipo de coisa nas madrugadas de sexta pra sábado. O que me instiga a continuar pensando nisso?
A questão continua sendo: eu sou o leão, mas o que é a caça? Devo ficar sentada esperando, devo correr na mesma direção ou mudar a direção do leme? Devo planejar o futuro ou só aceitar o passado? (Nossa, que profundo isso). Sou dona de um espírito guerreiro ou sou só mais uma areia no fundo do mar? É isso que me incomoda?

Pra falar a verdade, eu não sei.


Um comentário:

  1. O que é essa sensação que me atormenta? Estava a pensar acá com meus botões e estive a perceber que talvez tudo se resumisse a psicologia evolutiva. O que estava analisando é que a mesma pessoa que passava horas pesquisando coisas aleatórias era também deixada de lado pelos colegas e sequer era notada pelas meninas. O que acho é que - talvez- todo o nosso comportamento e emoções são reflexos de princípios de auto-preservação da espécie, talvez eu não seja um individuo-agente portador das características genéticas que proporcionariam uma boa prole e por isso a seleção natural se encarregaria dos mecanismo para me deixar longe do "contato" com outros agentes da mesma espécie - evitando assim a geração de uma prole defeituosa.
    Mas não tenho certeza, é apenas uma hipótese que ainda precisa ser falseada e validada.

    Ps:Volta para o layout antigo, a cor branca prejudica na leitura. Tive que colocar o f.lux em 1200k: Ember. Ps:volta para o layout antigo

    ~S.V.

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