terça-feira, 22 de julho de 2014

Facebook e a caixinha de papelão


Hoje em dia é raro encontrar pessoas que não possuem contas no Facebook. Antes o público adolescente era a maioria, mas basta olhar ao redor para encontrarmos avós e netos compartilhando uma foto.
Dos muitos avanços que as redes sociais trouxeram, o principal seria o contato que amigos e parentes começaram a ter. Não é prático fazer uma ligação para um primo em outro Estado, mandar uma carta muito menos, mas curtir uma foto ou comentar em um post é a maneira mais rápida e simples de se manter contato.
As informações também começaram a chegar em ondas. Curtindo a página dos principais meios de comunicação, não há mais necessidade de ouvirmos rádio ou assistirmos televisão. Sabemos de tudo com atualizações em tempo real e compartilhamos essas informações para nossos amigos.
Mas até onde essa liberdade toda vai? Nossas curtidas não param apenas em veículos de comunicações. Curtimos páginas religiosas, de enternecimento, de frases inspiradoras e as que publicam fotos de filhotes bonitinhos.
As coisas que gostamos acabam tomando conta de nossa timeline e de nossas vidas. Nossos amigos (que geralmente têm os mesmos interesses que nós), compartilham as mesmas coisas que recebemos pelas páginas que curtimos. Uma página leva a outra e acabamos nos afogando em um único assunto.
Conheço pessoas que são fãs fascinadas por determinado grupo musical. Essa pessoa é daquelas fãs que sabem até o nome do filhote do cachorro do irmão do baixista da banda. Sim, é chato.
Há algum tempo estive olhando a timeline dessa pessoa e percebi que as informações que estavam ali não apareciam de jeito nenhum para mim (assim como as minhas informações não apareciam para essa pessoa). Eu não tinha como ficar sabendo do novo escândalo que a boyband se envolveu, assim como esta garota não tinha como saber que o Thor agora será uma mulher.
Por quê?
Desde então tenho me vigiado nesse aspecto. Fiz questão de curtir a Capricho, a Igreja Universal do Reino de Deus e a página do Furby. Nenhuma dessas coisas me agrada (chegam a me irritar, para falar a verdade), mas elas fazem parte do mundo! Preciso saber o que aquele grupo social está comentando.
Também percebi que eu estive escolhendo amigos. Alguns que postavam coisas absurdas (ao meu ver, claro), acabaram sendo excluídos, outros foram apenas ocultados de minha timeline.
Por quê?
Ouvir o que não queremos é ruim. Ninguém gosta de um hater comentando todo maldito post. Acabamos cedendo à comodidade e bloqueando aquele maldito miserável. Mas será que era um maldito miserável mesmo?
Opiniões contrárias, culturas diferentes, opiniões distintas. Uma das minhas frases preferidas é: Não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de o dizer (Voltaire). Quem disse que a sua opinião é a certa? Talvez aquela boyband seja um lixo, mas talvez seja a reencarnação dos Beatles. Talvez os vegetarianos estejam certos e comer bacon seja a coisa mais errada do mundo. Talvez os cristãos estejam certos, ou talvez os gregos? Os egípcios? Os maias?
Se você é ateu, curta a página da Universal. Não precisa comentar em tudo que eles postarem, mas apenas observe. Veja como uma legião de ovelhas segue o lob... o pastor.
Se você é crente, curta páginas sobre mitologia. Temos egípcios, gregos, romanos, maias, astecas, incas, nórdicos... Veja as postagens, descubra o que é hidromel e veja a quantidade de semelhanças entre religiões antigas e a Bíblia.
Todos nós temos uma caixa de papelão sobre nossas cabeças, tapando nossa visão. Pintamos as paredes de dentro das cores que mais gostamos, com filhotinhos de cachorro e profundas frases de reflexão... Ok, ok, o conformismo é essencial para a felicidade humana.
Faça apenas um furo nessa caixa. Faça com que pelo menos um olho enxergue além. Veja o mundo como ele é, não como gostamos que ele seja. Liberte-se.



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