Não cobrem muitos detalhes nessa parte.. Está chata.
Postei só pela data.
IV
Estávamos em abril. Como duas quase-chocólatras, compramos ovos de páscoa e enchemos a geladeira com eles. Aquele ano nós estávamos um pouco descontroladas em relação à aquisição de coisas. Além de nossos próprios ovos de chocolate, tínhamos comprado alguns para meus sobrinhos e um para a Sra. Marta.
Era uma noite quente e Mariana não estava em casa. Eu estava morrendo de sono e fui dormir bem mais cedo do que o normal. Eu realmente apaguei assim que deitei na cama.
Mas acordei pouco tempo depois com o som de passos pela casa. Mariana não fazia tanto barulho... Estava sempre andando descalça, ou no máximo de meias... As únicas visitas dela se resumiam aos clientes ou às de Gregório. Mas em ambos os casos não havia motivos para alguém estar andando pelo corredor.
Abri os olhos e fiquei encarando o feixe de luz que ficava debaixo da porta quando a luz do corredor estava acesa. Havia umas duas pessoas na casa, andando de lá pra cá.
─ ô comparsa, leva isso aqui lá pra baixo. ─ouvi a voz de um homem.
Naquele momento eu entendi o que se passava. Um assalto... Onde estava Mariana? Ela com certeza reagiria... Talvez tivessem a matado! Mataram Mariana! Mas eu não ouvi nada, então ela poderia nem estar em casa...
Diferentemente da Sra. Marta. Ela com certeza estava em casa e com certeza sabia o que estava acontecendo.
Em minha mente o plano era simples: Levantar, pegar meu celular encima da bancada que eu tinha no quarto, ligar pra polícia e ficar quietinha esperando... Neste momento abriram a porta do meu quarto.
Permaneceram alguns instantes com a porta aberta e então a fecharam novamente. Eu continuava imóvel, esperando a oportunidade certa. Mas as dúvidas começaram a se acumular em minha mente... Será que um deles não estava no meu quarto? Será que eles não abririam a porta no momento em que eu estivesse falando com a polícia?
E isso me fez travar. Fiquei ali por um bom tempo, calculando o tempo que eles demoravam para voltar ao meu quarto. Mas enfim, criei coragem e abri os olhos ao mesmo tempo que comecei a levantar o meu corpo.
Então vi uma pessoa sentada perto da porta. estava escuro, não reconheci prontamente e então levei um susto.
Era a Sra. Marta. Ela tentou me tranquilizar com as mãos e eu voltei a ficar imóvel na cama. O que eu poderia fazer? Estava assustada, meus músculos se recusavam a me obedecer.
Cerca de dez minutos depois eles saíram da casa. Sra. Marta e eu saímos do quarto. Desci correndo para a casa da Sra. Marta e liguei para a polícia. Em seguida liguei para o celular de Mariana.
Contando no relógio, ela chegou três minutos depois. Ela desceu do carro e correu até nosso apartamento, onde eu e a Sra. Marta víamos o que tinha sido roubado. Ela me segurou pelos ombros.
─ Você está bem? Eles fizeram alguma coisa com você?
─ Não, estou bem.
Ela me soltou e correu até a Sra Marta, que estava sentada em nosso sofá. Ela abaixou-se e deixou um joelho no chão.
─ Estou bem, minha filha. ─disse ela.
Mariana levantou-se e deu uma volta rápida pela casa. Voltou para a sala e passou a mão pelo rosto.
─ Quantos eram?
─ Três. ─disse Sta. Marta.
Mariana tirou o celular do bolso discou.
─ Gregório! ─bradou no celular─ Roubaram a minha casa. Se algum dos seus homens achar três suspeitos, quero me avise. Não, não...! Só quero me diga onde eles estão! Ok, valeu.
Ela desligou e guardou o celular no bolso. Ela foi até a cozinha, abriu a geladeira e começou a ter um surto. Corri até lá e vi nossa geladeira vazia. Não estou exagerando ─ não havia sobrado nem mesmo hambúrgueres congelados no freezer.
─ Eu vou... Eu... Eu não sei nem o que vou fazer quando achar esses caras!
Ela saiu praticamente correndo e desceu as escadas. Eu comecei a segui-la, mas quando ela chegou no ultimo degrau de nossa escada ela parou e disse num tom que eu raramente ouvia:
─ Dessa vez você não vai comigo.
Fiquei lá encima, vendo-a entrar no carro e sair com os pneus cantando.
Era uma e meia da manhã quando vi o carro de Gregório parando em nossa porta. Ele entrou em nossa casa dando dois toques na porta.
─ Como estão as coisas por aqui?
─ Mais calmas.
─ Ué... A Mariana não voltou?
─ De onde?!
─ Uns dez minutos depois que ela disse que vocês tinham sido assaltadas, eu retornei falando que uma patrulha tinha encontrados três suspeitos... Daí que vim pra cá o mais cedo que consegui.
Eu acordei quando ouvi o barulho da porta abrindo. Levantei do sofá num pulo e senti meu pescoço doer. Dormir no sofá não era uma coisa agradável. Ela tirou os sapatos e os deixou na porta e sorriu.
─ Bom dia.
─ Bom dia?! Onde você estava?
─ Fazendo do mundo um lugar melhor.
─ Como? Posso saber?
─ Levando três homens ao hospital. Coitados... Acho que vão precisar de terapia.
─ O que você fez com eles?
─ O que você teve vontade de fazer?
─ Não sei... Eu...
─ O que sentiu ao ver as suas coisas sendo roubadas? Tudo o que você conseguiu com tanto esforço... Tudo o que você trabalhou duro pra conseguir... Aí vem alguém e tira isso de você! O que você sente?
─ Raiva...?
─ Exatamente! ─disse ela alterando o tom de voz.
─ Mas o que você fez exatamente?
─ Olha... Se eu disser que nem sei o que fiz exatamente, vai parecer mentira...
─ Ok, ok... Mas onde eles estão?
─ No hospital, já disse.
Ela secou as mãos e bocejou alto como um leão.
─ quer um suvenir? ─disse ela tirando um soco inglês do bolso e deixando-o encima da mesa─ Era de um deles. Agora, se me dá licença... Vou tomar um banho gelado e ir dormir. A noite foi cheia... . ─ela começou a ir em direção ao corredor ─ Ah... Foi um assalto encomendado. Eles queriam meu notebook, que; por um acaso está no carro lá embaixo. Se quiser trazer nossas coisas de volta...
Ela realmente capotou na cama e lá ficou por toda a tarde. trouxe de volta metade de nossas coisas, e eu as coloquei no lugar. Antes disso eu avisei Gregório sobre o ocorrido.
Mais uma vez eu me questionava de que lado ela estava. Lutava por um mundo melhor, mas à que preço? Não era a primeira vez que ela fazia algo que eu não aprovava, mas... Parte de mim entendia, concordava e ainda dava apoio!
O mundo precisava de mais pessoas como ela. Não todas as pessoas, porque senão o mundo não contaria mais com a existência de seres humanos; mas... Se 1% das pessoas fizessem a justiça valer...
Esqueça os policiais, os políticos, os juízes... Todos são subornáveis, eles não fazem o que precisa ser feito. Muitas vezes o que é preciso é mal compreendido, por isso os governos não podem fazer o que é certo.
A população... A grande maioria não está pronta, não aceita... E eu fazia parte dessa maioria, mas aos poucos começava a entender – ou a ficar louca ─ ou a ficar louca para entender
Essa parte está boa.
ResponderExcluirContinuando aqui...