quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

642 coisas sobre as quais escrever 68 - 70

Lista completa: http://goo.gl/9KqNJm

68. Escolha um pequeno objeto a ser dado um dia para o(a) seu/sua bisneto(a). Escreva uma carta para a criança, explicando por que escolheu aquele objeto.
Eu talvez escolheria minha coleção de moedas que pertenceu ao meu pai e, antes disso, ao meu avô... Mas essa coleção foi roubada, então né... Estou recomeçando a coleção, mas não é a mesma coisa.
Eu escolheria então meu chaveiro do Canadá. O dia mais alegre da minha vida aconteceu na minha primeira nevasca do dia 18/dez/2012. Acordei no horário normal, escovei os dentes me arrumei, deixei o sobretudo e a bota prontos para partir... Fui até a cozinha e o café já estava na mesa. Ainda estava escuro e lá todos respeitavam a sensibilidade matinal dos outros. As luzes estavam apagadas, as cortinas fechadas e todos falavam baixinho... Terminei meu café, coloquei o sobretudo e enquanto estava calçando a bota, ouvi minha host dizendo: Did you see the snow?
Ergui os olhos e vi a rua. Tudo estava branco. Fui andando feito um zumbi em direção ao lado de fora e senti os floquinhos caindo no meu rosto. Enquanto minha host fechava a casa e corria para dentro do carro, uma súbita vontade me atingiu: COMER NEVE.
Sem nenhuma explicação razoável, eu simplesmente peguei a neve que estava acumulada no retrovisor do carro e taquei para dentro da boca. A neve derreteu e virou água em segundos. Fiquei uns segundos parada, olhando aquele mundo branco... Até que minha host abriu a porta do carro me chamando para entrar.
Eu consegui chegar na escola, mas muita gente ficou pelo caminho. Os professores não chegavam e então decidimos brincar de guerra de neve. Sim, meus amigos... Foi a coisa mais incrível ever.
Gostaria que essas pequenas descobertas com grandes alegrias fossem parte da vida de meus descendentes. Não necessariamente uma guerra de neve, mas pequenos sonhos que se realizam... Coisas que você passa e nem consegue explicar direito. São essas coisas que constroem a vida... Não deixe de aproveitá-las.

Esse vídeo pertence ao dia da neve. Eu estava um pouco afobada, então ignorem os "tipo".
http://youtu.be/SEklafFaeGs


69. Você vai aparecer em um talk show. O(a) produtor(a) vem nos bastidores para obter uma história engraçada que o(a) apresentador(a) deve focar. Escreva uma história como um monólogo que você está contando em rede nacional.
Eu não falo espanhol. Tive algumas aulas na escola (saaalve professora Rosana!), mas não sei muito mais que "acima, abajo, al cientro, al dientro!". Quando eu e meus pais fomos para a Argentina, esse pouco portunhol que sei foi colocado em prática. Por minha insistência, nós fomos visitar o Zoo Loján - um local onde é possível entrar na jaula dos tigres e leões. No entanto, esse é um passeio um pouco arriscado porque os animais têm dentes e, ao contrário do que dizem, não me pareceram muito "dopados".
Enfim... Para chegar ao local, era necessário uma pequena viagem. Estávamos no porto de Buenos Aires (porque estávamos no meio de um cruzeiro, bjs) e precisávamos chegar ao obelisco. Uma moça muito simpática nos mostrou um mapa e nos mostrou como chegar lá. Eu entendi e coloquei-me a guiar meus pais...
Para minha surpresa, eles estavam completamente "perdidos". Eu não sabia andar por lá, claro, mas eles pareciam estar sofrendo de algum tipo de lentidão. Com meu portunhol pééeéeeeeessimo, acabei tendo que pedir a mesma informação dezenas de vezes.
Chegamos ao obelisco de Buenos Aires, mas onde estavam os tais transportes para o zoo? Pergunta aqui, pergunta ali... Nada. Até que parei dois carinhas e arrisquei algo como: Estoy procurando ônibus para zoo loján.
Os caras me indicaram o metrô, mas eu não queria metrô. Eu queria o maldito ônibus! Então me lembrei das aulas de espanhol que tinha na escola... Ônibus era "autobús". Mas eu estava procurando vans, não ônibus. Como dizer "van" em espanhol?? Pequeno ônibus deveria servir. Depois dessa incrível epifania, arrisquei novamente: Estoy procurando um pequenho autobús para zoo loján!
Pois os caras se colocaram a rir. Fiquei parada, olhando pra eles enquanto os dois hombres tentavam controlar as risadas. Eles riam realmente muito. Um deles disse algo como: "qué?!?". Fiquei envergonhada. Será que tinha falado alguma coisa errada? Aparentemente sim.
Então vi uma van passando na avenida. Apontei e disse: aquilo!!
Os caras soltaram um "aaaaaaaahhhh!!!!" e um deles completou: "usted procura una KOMBI!".
Mano, QUANDO é que eu ia descobrir que van era kombi?
Os caras me indicaram o caminho, eu agradeci e eles se afastaram rachando o bico. Até hoje não sei a razão de tanta graça...


70. Descreva duas visitas ao circo a partir do ponto de vista de alguém que é bipolar. Em uma visita, ele(a) é maníaco(a), e em outro, ele(a) está em um poço de desespero.
A placa dizia "Circo hoje!" com um tom de animação que me contagiou. Ainda que estivesse noite, as cores chamativas atraíram meu olhar e me deixaram parado no meio da rua por vários minutos. Da última vez que um circo viera à cidade, a polícia chegara bem perto de me prender. Dessa vez não. Dessa vez tudo daria certo. Enquanto se aproximava da bilheteria e tirava a carteira do bolso, senti as mãos tremendo. Eles vão desconfiar. Respirei fundo tentando me acalmar. Tudo daria certo, não haveriam provas contra mim.
Paguei meu ingresso e guardei o troco rapidamente nos bolsos. Aquela seria a chave para a noite de sucesso.
Entrei no picadeiro e esperei que o lugar lotasse. Crianças, namorados e velhinhos encheram as cadeiras. Eu aguardei, ignorando aqueles palhaços idiotas, os cãezinhos ensinados e o mágico com truques velhos... Eu esperei, imaginando como minha noite poderia acabar. Uma vozinha em minha mente criava planos, mas eu precisava ter calma... Antes do intervalo já comecei a sentir o cheiro de pipoca. Era hora. Saí de meu lugar pedindo licença às pessoas...
Fui para o lado de fora e me aproximei sorridente da moça que vendia pipoca. Ela respondeu meu sorriso. Bom. Pedi uma pipoca grande e em seguida perguntei o preço. Mesmo sabendo que não havia o suficiente, tirei minhas moedas e olhei para a moça com um sorriso torto. Joguei as moedas de volta e tirei a carteira. Lá dentro tinha uma nota alta de dinheiro e, obviamente, a moça não tinha troco.
- Pode ficar, depois eu venho buscar o troco. -eu disse dando uma piscada.
A moça riu e eu voltei para meu lugar bem a tempo do intervalo ser oficialmente declarado. Esperei pacientemente enquanto velhos e crianças iam no banheiro e gastavam seu tempo comprando pipoca, algodão doce e tranqueiras. Quando a segunda parte começou, eu saí e fui em direção à moça. Olhei ao redor e vi um garoto retardatário que voltava correndo de um dos banheiros.
- Seu troco. -disse a moça, me entregando dinheiro.
Meus olhos acompanharam o menino que voltava para dentro do picadeiro. Era hora.

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A placa dizia "Circo hoje!" com um tom ridículo de animação. Como uma mera placa poderia ser tão alegre? Havia dinheiro em meu bolso e achei justo gastá-lo antes de... Fazer o que tinha que fazer. Enquanto andava até o lugar, senti vontade de chorar, mas não chorei. Era necessário ser corajoso para fazer o que eu queria e chorar não ajudaria em nada.
A moça que pegou meu dinheiro sorriu alegremente ao me entregar o ingresso. Por que ela sorria? Porque era mandada ou porque viver com o circo era tão feliz quanto diziam as histórias? Por um breve momento pensei em fugir com o circo... Aquela ideia era tão absurda quanto fugir com os ciganos - o que eu pensara bastante nos últimos dias. Fui lentamente até meu lugar e assisti os cãezinhos fazendo travessuras... Eles ganhavam biscoitos por seu trabalho, mas eram amados ou castigados? As ONGs que cuidavam dos bichos não poderiam ver tudo o tempo todo... De repente os pulinhos dos poodles se tornaram drásticos. Os palhaços que riam de coisas trágicas, como se aquela fosse a única solução. Não era. Como alguém poderia ser feliz sendo tão idiotas? Pessoas assim, se existissem de verdade, não mereciam viver. Os mágicos iludindo velhos e novos, como? Por que as pessoas gostavam de se iludir? Porque elas querem viver. Era isso, fazia todo sentido. A vida se resumia àquele momento: o mágico e as pessoas que o assistiam. Todos sabiam como os truques aconteciam, mas apenas eu estava disposto a contestá-lo.
Não aguentava mais aquilo. Me levantei antes do intervalo ser declarado.
Saí de perto das luzes e da música.
Andei pela estrada pensando em tudo e em todos.
Parei no meio da ponte e respirei fundo enquanto ouvia a música recomeçar ao longe. A música pareceu se tornar ainda mais distante... fechei os olhos. Era hora.

3 comentários:

  1. Se fosse uma pessoa com boderline ia ser interessante também. Tipo, ele começa sendo super simpático, e de repente começa a achar que os palhaços, ao invés de trazer alegria estavam sugando a dele, e termina indo embora.

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    1. É uma boa! Não tinha pensado nisso.

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    2. To pensando em fazer! Vou começar amanhã,

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