sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ali estava ela




"Ali estava ela, andando sem solução, com uma garrada de vodca na mão e mal conseguindo se equilibrar no sapato de salto alto.
...com a maquiagem borrada, cabelo despenteado e concretizando que era a mal amada.
Lá estava ela se arrependendo.
Ela, com memórias mortas em trilhões de pedaços, com o peso da culpa nas costas e com o cadáver de seu orgulho nos braços.
Ali estava ela, sem seus pais, sem seus saudosos amigos e sem quem lhe dissera que amor era saudável.
Estava ela se lembrando de rastejar aos pés de quem a enganara. Lembrando-se de que um dia ela amara. Ainda amava, mas não era amada. Nunca fora. Agora sabia.
A difícil arte de amar um dia lhe parecera simples, mas ela, a mal amada, sabia que estava errada. Sabia também que ainda estava sóbria. A garrafa não era o suficiente, nunca era.
Lamentando a loucura de seus lábios, ela se satisfazia em simplesmente ler seus romances em voz baixa, quase em silêncio, esperando calada em sua torre.
...torre que agora estava tão distante.
Ali estava ela, procurando pela lua e não achando. A lua, tão linda para os apaixonados... Não tinha espaço para isso em seus lábios calados.
As lágrimas corriam pelo rosto. Lamentável, sabia. Seu antigo posto não se fazia necessário nos novas eras. Ela sabia que não era mais necessária. O mundo seguia seu curso, e ela era apenas mais um nada. Ela não era. Ela se transformara. Suas opções, suas escolhas, sua derrota.
Não se pode ganhar sempre. A derrota é iminente. Tentava usar a razão. Pessoas como aquelas se faziam necessárias na sociedade... Não há luz sem escuridão, não vitória sem derrota. Não havia pessoas como ela se não houvesse pessoas como aquela.
Lá estava ela. Rastejando-se para ser aceita num mundo sarnento. Sabia que estava errada. Podia ouvir a si mesma sussurrando em sua mente. Mas continuava a andar sem direção, procurando talvez alguma motivação.
Sabia que podia voltar, mas a vergonha a mantinha naquela mesma linha. Andando, sem solução, como sempre. Pensava no passado e revivia a rainha que um dia ela fora. Sabia que era passado, não voltaria.
Ali ela estava, sozinha porque queria, afogando-se lentamente em suas lágrimas.
Ali estava ela.
Estava."


Gabriela Leão

2 comentários:

  1. Nossa, que complexo tudo isso, apesar da leitura perfeitamente compreensível. Gosto desse tipo de escrita um tanto introspectiva, porque assim nós leitores, do outro lado, podemos ter acesso a esse turbilhão de pensamentos e sentimentos contidos em um único ser. Parabéns Gabriela, gostei do seu espaço

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