segunda-feira, 21 de maio de 2012

O rei que não sorria



Tudo começou há muito tempo atrás, quando o príncipe herdeiro nasceu. Quando pequeno, não se socializava com os filhos dos empregados por dois motivos: Não era permitido e ele não fazia questão.
Nunca aprendeu a gostar de multidões, mesmo que aquele povo um dia se tornaria seu. Também não ligava para a grande fortuna que o pai esbanjava.
Nada, absolutamente nada, tirava uma gargalhada do príncipe.

Os anos se passaram, o príncipe cresceu e o rei envelheceu.
Os extremos eram visíveis: Um forte, bonito e mal-humorado; e o outro velho, doente e sorridente.

Certa noite, uma das mais frias, o rei pediu que os lacaios chamassem seu filho em meio a madrugada. Em meio ao desespero de respirar entre uma tosse e outra, o rei o fez prometer que faria o que seu povo precisasse. O filho obedeceu.

Na manhã seguinte o dia começou com o peso da coroa em sua cabeça. Ele passou algum tempo sozinho, olhando pela janela e pensando no que o pai lhe fizera prometer. "Ser justo" é bastante relativo.
Assim que saiu de seu quarto, foi recepcionado por um bispo e um tio que sempre aconselhou o pai. Os dois mostraram tudo o que um rei deveria fazer.

O tempo passou e o reino cresceu. Havia mais moradores, mais moedas de ouro sendo faturadas e aquele era um dos reinos mais fortes que havia conhecimento. Porém, o rei não sorria.
O bispo e o conselheiro questionavam o motivo de tanta antipatia pela felicidade, mas o rei não tinha nem mesmo resposta. Não havia razão para sorrir.

Certa vez, um forasteiro chegou à cidade. Ninguém sabia do passado daquele homem, não sabiam nem mesmo se seu nome era verdadeiro; porém ele trazia uma promessa de fazer qualquer pessoa sorrir.
Assim que os camponeses ouviram isso, levaram-no ao rei e o apresentaram como a cura para a tristeza do rei.

O rei, pressionado pelo bispo e o conselheiro, aceitou.
O forasteiro conversava com o rei uma boa parte do tempo; dizia que precisava de informações para saber como fazer o rei sorrir. Era um trabalho difícil e demorado, que requeria cautela...

Passou-se o tempo. O bispo e o conselheiro tinham o forasteiro como membro da alta cúpula e então chegou o tão esperado dia.
Toda a corte se reuniu para ouvir o que o forasteiro tinha a dizer, e então ele começou:

- Este reino está aos pedaços. Pode parecer que não, mas está. O rei não sabe o que faz e quem leva todo esse progresso às portas dos camponeses são esses dois bravos homens -disse ele abraçando o bispo e o tio do rei- Eles sim trazem a prosperidade e a alegria! O rei... Hum... Não serve para nada. Não expressa uma única reação de felicidade ao ver seu povo feliz; presumo que se uma praga atingisse as plantações, ou uma maldição pegasse nossas crianças; ele também não expressaria uma única lágrima!

todos que estavam ali olharam para o rei.
O rei, por sua vez, estava sentado no trono, apenas observando o que se passava.

- Ele nem mesmo responde! Vocês podem ver que ele não liga! Vamos senhores! Tirem esse homem do poder, ele não sabe governar!

A corte levantou-se aos poucos. Uns olhavam os outros, esperavam que alguém desse o primeiro passo; e então o tio foi o primeiro a ecoar o som do sapato sobre o chão. Quando os outros começavam a se desprender da multidão, o rei levantou-se do trono e levantou a mão pedindo calma.

- Sei sua história, forasteiro. Sei o que você já fez e sei das mensagens que mandou daqui para seus amigos que estão em outros reinos. Sei que que usa a corte contra o rei e então o tira do trono, rouba todo o ouro e então abandona o reino na miséria. Soube disso a poucos dias, então já era tarde. Agora a decisão não está em minhas mãos... Se meu povo acredita que não sou um bom governante, eu abdico o trono.

A multidão permaneceu em silêncio. O rei ouvia o som do próprio coração. Ele desceu do trono, tirou a coroa de sua cabeça, ajoelhou-se e colocou-a no chão. Ficou ali, abaixado, por longos segundos. Então ele levantou-se e saiu pela porta da frente, abandonando seu povo e uma gota encima da coroa.

Há quem diga que uma lágrima atingiu o ouro, outros diziam que aquilo fora o suor escorrendo de seu rosto pelo medo que sentia do povo. Há quem diga que o rei se perdeu no mundo, há quem diga que fora vítima de sua própria tristeza...

O fato é que pouco tempo depois que o rei se ausentou, o reino estava quebrado. A coroa fora roubada pela população miserável, os lagos estavam secos e as árvores estavam sem folhas.

Há quem diga que o sorriso do rei não estava em seu próprio rosto, mas sim em no rosto de seu povo.

6 comentários:

  1. O REI QUE NÃO SORRIA...:D Gostei Gabi! Ótimo post!

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  2. Impressionante... Mostra que ninguém sabe o que há por traz do silêncio das pessoas....

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  3. Linda estoria.
    E verdadeira a moral que transmite.
    Sem o líder, mesmo que antipático, se perdem os súditos que pensam conhecer tudo.
    Gostei muito, Gabi de La Fontaine. rsrsrs

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  4. karaca manola, adorei o texto, serio mesmo, e olha que não sou muito de ler Oo
    parabens ^^

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  5. A corte não faz nada. Mas, lembre-se, sempre tem um castelo precisando de um novo rei.

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  6. Pena não conseguir escrever bem assim sempre.
    Está cada dia mais difícil pessoas que bem escrevem.
    Usam os espaços para reclamar e desabafar suas desilusões.
    É triste.

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