Não me considero uma pessoa ruim.
Eu tento, na medida do possível, fazer o bem para as
pessoas. Não só para as próximas, mas também para os desconhecidos. É claro que
reservo um profundo desprezo por um ou outro, mas sou um ser humano não
perfeito.
Tento defender os fracos e oprimidos de vez em quando, dou
bom dia para o motorista do ônibus e para o cobrador, faço pessoas rirem à
medida do possível e empresto livros.
Todo dia tento melhorar o humor dos outros.
Mas começo a perceber que só consigo melhorar o humor de
quem não é tão próximo. Quanto mais próximo, mais eu sou o oposto do meu
objetivo. A intenção é agradá-las, mas eu não consigo manter essa meta por
muito tempo.
Tenho um bom senso de razão e emoção. Noto que com a razão,
faço a emoção dos outros melhorar. Já com meu lado emocional, acabo com tudo
como um urso entrando em uma casa de bonecas.
Talvez seja isso. Eu seja um urso em uma casa de bonecas.
Quero brincar, claro! Mas talvez o ambiente não tenha sido projetado para
pessoas como eu.
Fiz um teste psicológico sério esses dias (daqueles que os
psicólogos fazem e tal). O aplicador do teste disse que nenhum extremo era bom.
O meu tinha dois extremos: razão e emoção.
Obviamente minha parte racional era a Cordilheira dos Andes e
minha emocional era um castelinho de areia. Extremos não são bons quando não se
completam.
Às vezes meus castelinhos de areia tiram meu sono. (Que
mentira! Que mané “às vezes”!!). Respiro fundo, sinto o cheiro do nada. Fico
imóvel sentindo apenas o toque do ar. Sinto meu próprio coração batendo: calmo,
compassado, organizado, metódico, silencioso e sutil.
Não tenho certeza se gosto dessa calmaria toda.
Hoje fizemos progresso.
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