Algumas pessoas procuram outras pessoas. Algumas pessoas precisam de companhia... Precisam tocar
a pele de outro ser humano, sentir o calor do corpo de alguém dividindo sua
cama... Essas pessoas tomam café na cama com seus parceiros, fazem viagens
curtas para uma cidadezinha turística qualquer...
Outras pessoas são acostumadas com a solidão. Não por opção, e sim porque a vida lhes impôs este fardo. Ela era uma
dessas pessoas. Acordava todos os dias em sua cama de solteiro e forçava-se
a não cair no sono novamente.
Tomava um copo de café preto com duas colheres de açúcar
enquanto checava os e-mails antes de ir trabalhar. Morava sozinha e não se
parecia com qualquer moça de sua idade.
O apartamento tinha cheiro de livros velhos. As janelas
estavam sempre fechadas e as refeições eram feitas na rua. A única coisa que
funcionava era a máquina de café e o computador.
Trabalhava no setor administrativo de uma empresa de médio
porte. Entrava às 7:30 e saia às 19:00. Gastava quarenta minutos para chegar em
casa, tomava um banho quente e depois se dedicava a escrever.
Gostava de escrever. Escrevia seus planos que jamais seriam
realizados, memórias que não desejava esquecer e coisas que aconteciam sempre.
Ia dormir sempre antes da meia noite. Checava se o
despertador estava funcionando e lia um capítulo de algum livro qualquer. Colocava
o livro na estante, esticava-se para apagar as luzes e dormia feito uma pedra.
Isso aconteceu até uma noite de Agosto.
Por insistência do pessoal do trabalho, ela os acompanhou
até um barzinho relativamente próximo à empresa. Um dos colegas havia sido
promovido e pagara uma rodada de cerveja para todos.
Havia uma banda tocando sucessos dos anos noventa num palco
minúsculo, mas ela não deu muita atenção a eles. Bebeu sua cerveja e sentiu o
quanto deslocada estava. Estava pegando a blusa e colocando-a no braço quando
um homem veio falar com ela. Os colegas se afastaram para dar a ela um momento
com o galante rapaz.
Depois de insistir para pagar mais uma cerveja e horas de conversa, ela percebeu que os amigos já tinham ido e que já passava das duas da manhã. O rapaz se ofereceu para leva-la em casa, mas ela recusou.
Para não deixa-lo constrangido, aceitou a companhia até o carro que estava estacionado na frente da empresa. Andaram conversando, rindo um pouco... Um pensamento antigo renasceu na mente dela. Seria aquele o homem de sua vida?
Ela estava errada. Aquele homem não era o de sua vida, e sim
o de sua morte. Seu corpo foi achado na manhã seguinte, três ruas de distância
de seu carro. As condições do corpo eram... ruins.
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