[Isso mesmo, moçada! Temos uma nova história sendo produzida]
Em
dezembro de 2085, a última morte foi causada por guerra. Os EUA perderam a Guerra
dos 500 Dias, que ninguém sabe exatamente quantos dias durou. O fato é que em
dezembro, o último míssil foi lançado e derrubou o último caça americano no ar.
A Rússia uniu-se à Alemanha nessa empreitada, criando uma nova moeda, uma nova
cultura e um novo medo. Se antes a sociedade baseava-se no capitalismo e no
poder do dólar, no final de 2085 o mundo tinha um novo medo: a fome.
A
guerra não foi fácil para ninguém, sem poupar adultos, crianças, ricos, pobres,
orientais ou ocidentais. Todos perderam muito e ganharam pouco durante aquele um
ano e meio em que as pessoas cavaram buracos no chão e não viram a luz do sol.
Há
quem diga que a Guerra dos 500 Dias foi planejada e nasceu de uma conspiração,
mas se foi isso mesmo, muita gente se arrependeu de ter planejado aquilo e
acabou sendo consumido pelo próprio Frankenstein. Os países que não quiseram se
envolver, sofreram com as mudanças no clima, no ar e na própria cultura. Os
países que bateram no peito e disseram que queriam participar... Sofreram mais.
No
fim, todos perderam a guerra. A população reduziu 80% no final de 2085 e nos
próximos 2 anos, mais 5% das pessoas do mundo morreram devido aos ferimentos,
subnutrição e mutações genéticas. Algumas partes do mundo ficaram simplesmente
desertas e as pessoas criaram novas capitais.
Em
2028 alguns pontos do mundo ficaram férteis e começaram a produzir comida para
todos os sobreviventes. O Cinturão Verde começou onde antes ficava o Japão,
Indonésia e China. O mundo começou a ficar mais verde aos poucos e com
dificuldades. A população ainda passava fome na época, mas finalmente alguns
vegetais voltaram a fazer parte do cardápio.
Em
dezembro de 2030, exatamente 5 anos depois do fim da guerra, a ONU comemorou o
fim da fome mundial. Os projetos de revitalização de plantas e animais
começaram em outros lugares do globo, mas sem tanto sucesso. Ainda assim, os
governos incentivavam a produção caseira de vegetais. Pequenos pacotes de terra
limpa e sementes eram distribuídos em postos do governo e o mundo finalmente
começou a caminhar para a verdadeira paz.
Esse
é o tipo de coisa que todo mundo sabe no mundo. Os detalhes são aprendidos nas
escolas, com a nova geração de crianças que não passou fome, não sofreu na
guerra e nem sentiu os cabelos caindo quando tomou chuva.
Estava
tudo bem, até que um dos diversos telescópios apontados para o espaço avistou
um cometa se aproximando da Terra dois meses antes. Ele se colidiria com a
Terra iminentemente. Era pequeno, não maior que um carro. A NASA logo se propôs
a fazer uma missão e desviar o pequeno incômodo, mas as coisas começaram a dar
errado. A primeira nave transportava apenas um robô e quando chegou à órbita,
os sistemas simplesmente ficaram off-line.
A
segunda missão tinha como objetivo reativar a nave morta e saiu apenas sete
dias depois. Dois astronautas foram mortos nessa tentativa, visto que a nave
explodiu quando foi reativada. A terceira missão já carregava muita pressão nas
costas e precisou de mais tempo, sendo enviada quase um mês depois. Cinco
astronautas foram enviados diretamente para o cometa e eles relataram algo
considerado bizarro: quando chegaram ao espaço, ficaram quase três dias sem
responder ao contato da Terra. Câmeras cobertas, microfones no mundo... Quando
voltaram a falar, os cinco contaram sobre um sonho com um anjo enviado de Deus.
No sonho, o anjo lhes dizia que o cometa era, na verdade, Jesus.
A declaração
caiu na internet logo em seguida, claro. Depois da guerra, as pessoas eram
cismadas demais para confiarem cegamente no governo e os hackers ouviam e viam
tudo. Costumavam ficar quietos, mas naquele momento todos sentiram que o certo
seria divulgar.
A
NASA sofreu represálias durante a semana seguinte e cogitou enviar mais uma
missão, mas a Rússia optou pela praticidade: que deixasse a pedra cair do céu.
Os cálculos foram feitos e a cidade de Ponta Verde, cerca de 500 quilômetros da
capital brasileira, foi isolada. Apenas a NASA, oficiais russos e câmeras
ficaram no local.
Na
tarde de 21 de junho, solstício de inverno na capital brasileira, tudo mudou. O
grande pedregulho chegou à terra e fez uma cratera realmente gigantesca. Do
espaço, os astronautas enviavam áudios “ele chegou, ele chegou!” e na Terra
todos estavam assistindo às imagens que vinham das câmeras ao vivo, que corriam
para a novidade.
Os
oficiais se aproximaram da grande rocha com equipamentos de proteção, mediram a
radiação e tudo o que podiam imaginar que fosse perigoso. Além do estrago feito
pela cratera, a grande bola de pedra não oferecia perigo. Algumas horas depois
as equipes de jornalismo e cientistas estavam por lá. Segundo os primeiros
relatórios, a pedra era oca.
Houve
um debate político sobre abrir ou não a rocha. Alguns diziam que ela deveria
ser devolvida ao espaço, enquanto outros diziam que ela deveria ser aberta e
estudada. Assim que anoiteceu, a pedra começou a rachar lentamente como um ovo.
Todas as pessoas se afastaram e todas as câmeras se aproximaram.
Foi
então que depois de um “plec”, a rocha quebrou em três e cada pedaço caiu para
um canto. As câmeras se aproximaram e ali estava o nascimento mais bizarro e
mais televisionado da história da Humanidade. Um bebê de cerca de dois meses,
encolhido, dormindo profundamente, de pele morena e cabelos escuros, deitado
sob a pedra negra vinda do espaço.
O
mundo segurava a respiração naquele momento.
Com
a aproximação das luzes das câmeras, o pequeno ser abriu os olhos e começou a
chorar. Nenhum vulcão entrou em erupção e nenhuma placa tectônica rachou. Porém
ao começar a movimentação, o bebê revelou que era uma menina. Isso fez o
cérebro das pessoas explodir.