quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pensar fora da caixa

Eeeeentão... Primeira semana de aulas desse novo semestre. A vida de acordar 10 da manhã acabou e voltei a sentir os efeitos da vida de estagiário (porque quando você trabalha, mas não estuda, é só um trabalho normal, com carga horária normal e problemas normais).
Hoje tive aula com um cara mui loco que, sinceramente, é meu espírito animal. 90% da sala não gostou dele. A razão é muito simples: gente normal não acredita que Jesus era um alienígena e em outras coisinhas do "Eram os Deuses Astronautas?". Gente normal não acredita que a mente tem uma capacidade superior e inalcançada (pela maioria) e não questiona coisas da vida.
A maioria das pessoas ficou no celular jogando, conversando pelo Whatsapp ou simplesmente dormindo com os olhos abertos. Acho interessante como as pessoas se acomodam no fundo de suas caixas.
Gosto de pensar que todos nós mantemos nossos cérebros fechados em caixas de papelão. Alguns deitam lá no fundo e fecham as tampas para poder dormir melhor. Outros ficam em suas caixas, pintam as paredes e fingem que aquilo é um navio, um avião, um qualquer coisa... Outros saem da caixa e olham as paredes de fora.
Eu tento (não sei bem se consigo) olhar as paredes externas da minha caixa. Tento pintá-la e mantê-la digna. Quando alguém está falando alguma coisa que discordo (ou acho improvável), eu gosto de ouvir. Abro minha caixa e fico lá, ouvindo as teorias mirabolantes das pessoas... Algumas são ridículas, sim, mas eu não posso provar que estão erradas ou argumentar de alguma maneira. Se a pessoa tem uma ideia - mesmo que sem provas - deve ser ouvida.
Esse é justamente o problema das pessoas. Elas se fecham para possibilidades e se abrem para coisas realmente tolas. Elas não conseguem enxergar como enganam a si mesmas. Elas se cercam de coisas mornas e calmas. Elas querem ler romances melosos, namorar um idiota... Ok, eu leio bestsellers, eu vejo seriados tosquinhos e tudo mais... No entanto, eu sempre procuro saber de outras coisas.
Sei lá.
Acho que é culpa do capitalismo, sabe? As pessoas vivem para ganhar e gastar dinheiro. Não existe mais espaço para questionamentos. Não existe mais aquela coisa de observar o sol, prestar atenção nas pessoas... Pressa, dinheiro... Como eu já disse aqui outras vezes, eu acho que a humanidade vem se robotizando. No final o mundo será como aquele filme do Christian Bale onde ninguém pensa em nada e nem tem sentimentos.
Se você parar pra pensar... Bem... Isso é uma opção caso a humanidade continue a se reproduzir do jeito que está.
Para um mundo fofinho, cheio de floreios e poemas... O mundo precisa mudar.


Bem, filosofadas à parte, cá vai um momento para se fazer um brinde:
Um cara me ligou hoje perguntando se sou responsável pelo Sobreviva em São Paulo e se estaria interessada em cobrir um evento.
Vocês não têm noção do quanto isso foi legal. Me senti A Jornalista, né? Estagiária, começando uma página por minha própria conta e sorte... E cá estou: sendo procurada para cobrir eventos paulistanos.
hu3333333333333333333333

Ah érh *dancinha de comemoração*

Hoje fizemos progresso.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

642 coisas sobre as quais escrever 101-107

Lista completa em: http://goo.gl/9KqNJm

101. Coloque-se (ou o seu personagem) em um lugar onde sinta-se vulnerável ou desconfortável.
Ah, isso é bem simples. Em uma cidade grande como São Paulo, becos e cantos escuros são uma fatalidade que acontece há cada quadra. Voltar pra casa depois das oito da noite é sinônimo de acelerar o passo. Um lugar que me deixe desconfortável? Algum tipo de lugar estreito, escuro e com um cara parado de maneira muito suspeita. O que ele está fazendo ali sozinho? Por que está ali, parado? 
Respiro fundo e continuo andando. Faço planos para um possível contra-ataque. Se ele estiver armado, entrego meu celular. Se ele pedir a mochila, entrego também... Mas só se ele pedir. Se ele não estiver armado e for do meu tamanho (ou menor), vou revidar. Dependendo de como eu me sair, espanco-o ou corro feito uma lebre. 

102. Sua pior experiência na aula de educação-física.
Bom... Não me lembro de nada especial, mas uma vez (há muuuuuuito tempo), eu levei um soco na cara (acho que não foi de propósito). Dei um passo pra trás e percebi que um dente tinha caído. 
Obs. O dente não estava mole antes. HUEHEHEHUEHUUEHUE 

103. Pense em algo que te descreva. Agora descreva-o.
(perguntei isso para Watson. Ela primeiro disse que eu era um sofá. WTF. Depois disse um livro porque "sempre passa conhecimento e pans")

Um livro com suas 500 e poucas páginas. A capa é lisa, de couro batido e marrom. O título é escrito em letras simples do Word, sem muitos floreios. Ele tem duas pequenas tiras que servem tanto para marcar as páginas quanto para amarrá-las para o caso de jogar esse livro na mochila para uma viagem. Ele é resistente e não se importa de ficar com suas roupas. As páginas são de pólen e as letras estão em Arial. O cheiro das páginas somado ao cheiro do couro é delicioso, mas apenas para um público seleto. Esse livro não agrada a maioria e não serve para ser passado de mãos em mãos. Ele fala sobre tudo, pode ser um pouco ácido e não te deixa dormir quando está com sono. É aquele livro que fala coisas profundas e depois dá uma risada, impressionado com a própria capacidade de filosofar. É um livro que até pode te fazer rir, mas também se mostra triste de tempos em tempos. É um livro para todas as horas, que pode te animar ou deixar mais no fundo do poço ainda. 

104. O que você sente sobre o "amor" ultimamente?
Essa música:
Eu não tenho mais a menor paciência pra isso (8)'


105. A coisa mais cruel que alguém já disse pra você.
"Ela me disse pra não confiar em você"

106. Um espirro
Saúde!

107. A pessoa que vai morar na sua casa quando você se mudar.
A dona do apartamento.
Ela é amiga da minha mãe e alugou o ap pra a gente quando saímos da minha casa (porque fomos assaltados trocentas vezes e quase mataram minhas cachorras envenenadas da última vez). 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

642 coisas sobre as quais escrever 95-100

Lista completa em: http://goo.gl/9KqNJm

95. Seu brinquedo favorito em um parquinho.
Balança.
Definitivamente, balança.
Com meu próprio impulso eu sentia que podia voar. O vento na cara, o friozinho na barriga quando estava muito alto... Simplesmente delicioso.


96. Imagine-se aos oito anos de idade. O que diria a si mesmo(a)?
Você e sua mãe brigam tanto porque as duas têm gênios fortes. Vocês duas são líderes e não nasceram para levar desaforo pra casa. Você será tão chata quanto ela (talvez até um pouco pior). Mantenha sua língua atrás de seus dentes porque mesmo que você queira responder, você não deve. Essa é sua maior qualidade e seu pior defeito, seu melhor amigo e pior inimigo. Pense. Você é livre para fazer isso. Xingue todos eles, imagine-se estapeando cada um que te irrite... Mas não abra essa boca se não for necessário. Isso ainda vai acabar te matando. 

97. Imagine-se aos dezoito anos de idade. O que diria a si mesmo(a)?
Fale menos, ouça mais. 
Desapegue. 
Não pense que as pessoas são como você.

98. Três objetos que tinham em seu quarto na infância.
1. Meu baú de madeira. 
2. Pelúcias.
3. Papéis.

99. Uma pessoa de pé em um palanque no parque, gritando com os transeuntes. O que está acontecendo?
- Jesus está voltando! Vocês precisam se converter o quanto antes! O fim está próximo! Os sinais já foram dados! -ele vociferava com a Bíblia na mão- Vocês podem me calar, mas isso não vai mudar nada! Vocês vão todos queimar no fogo do infeeerno! -ele continuava gritando enquanto os policiais o algemavam- Não toquem em mim, seus demônios! Jesus há de punir todos vocês! -ele continuava enquanto era arrastado- Os portões do paraíso não ser... -foi o que disse antes de apagar. Alguém finalmente tinha dado um sedativo para aquele louco.

100. Conte a um(a) estranho(a) sobre uma tradição de sua família.
Tenho 19 anos e há 19 anos passo o Natal no sítio do meu vô.
O Sítio dos Leão é uma chácara, não um sítio. Temos um punhado de galinhas, uns patos e dois ganços. Ah! Também temos duas jabutis, um laguinho com peixes... Uns pé de fruta e de flor (8)'
Enfim. Vamos pra lá no natal, distribuímos os presentes (antigamente meu vô - o Leãozão - se vestia de papai noel. Agora não temos mais crianças na família, então paramos).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

642 coisas sobre as quais escrever 89-93

Lista completa em: http://goo.gl/9KqNJm
Estou um pouco desanimada com esse desafio. Minhas respostas estão ficando mais curtas. Lamento.


89. Descreva o céu.
Azul. Um tom bonito de azul, mas não sei dizer exatamente qual tom é esse. Sei que está entre a cor do lápis de cor azul claro e o azul marinho. Não sou muito boa com cores.

90. Elvis Costello disse que "escrever sobre a música é o mesmo que dançar sob a arquitetura", discuta sobre isso.
Simples: Dança é uma forma de expressão, bem como a arquitetura. Escrita e música também. No entanto, cada coisa precisa de seu próprio espaço. Dançar sobre a arquitetura pode ser um ótimo tema para um ensaio fotográfico, mas não faz sentido na vida real. Escrever sobre música também não.

91. Escreva sob o ponto de vista de alguém que tem sinestesia.
Todos têm uma música favorita (ou mais de uma, na maioria dos casos). Com ele não era diferente, mas em vez de fazer suas escolhas baseado na voz do vocalista ou no ritmo da música, ele tinha preferências de acordo com determinadas notas. Começou com aquilo quando ainda era novo, dizendo que algumas músicas eram doces, azedas ou amargas. Logo descobriu que preferia música clássica, pois as notas eram menos confusas e mais agradáveis. Sua preferida, acima de todas as outras, era a Sonata da Meia-Noite (do Beethoven). No entanto, seus amigos não gostavam de música clássica. Eles costumavam trazer seus próprios pendrives com os hits do verão anterior. Aquilo era uma tragédia, pois a maioria das músicas eram amargas ou extremamente doces. Mas, para quem estava pegando uma carona para a praia, um pouco de chá de boldo em forma musical não era nada.

92. Um guia para iniciantes de levantar-se de manhã.
No verão: durma com a janela aberta. Vai ser mais fácil levantar se o quarto estiver claro.
No inverno: durma em cima da roupa que vai usar no dia seguinte. Se ela estiver quentinha, você pode se vestir debaixo da cobertor e isso vai te deixar mais disposto a se levantar.

Dica Bônus: pense na razão de estar se levantando naquela manhã. É pra estudar? Isso vai ser importante pro seu futuro. É pra encontrar alguém especial? É pra fazer o bem? É pra causar? É pra trabalhar e ganhar dinheiro?
Pense na razão do sacrifício e tudo ficará mais fácil.




93. Um(a) aluno(a) brilhante do ensino médio é flagrado(a) por um(a) professor(a) roubando alguma coisa na escola.

- Eu estou decepcionada!! -disse a coordenadora pela milésima vez.
Helen olhou para o chão. Quanto tempo teria que ficar ali? Quanto tempo teria que ficar sob o olhar acusador da professora de português, de pé no canto da sala e com os braços cruzados. De todas as broncas que levaria aquele dia, a pior coisa era o silêncio dela.
- Por que fez isso?
Helen deu os ombros.
- Você... Você nem precisava dessas provas, minha querida! Ele te obrigaram a fazer isso, não foi?
Não, não foi. Ao contrário do que a direção e os professores achavam, Helen tinha boas relações com o resto da sala. Poderia ter as melhores notas, mas fazia parte da turma do fundão quando ninguém estava olhando. Esse era seu dom: conseguia se infiltrar em todos os nichos. Era amiga das tias da limpeza, do porteiro, das diretoras, dos professores, dos nerds e dos meliantes.
- Se me disser quem te obrigou, não vamos chamar seus pais.
- Ninguém me obrigou a nada. -respondeu Helen virando o rosto pro outro lado.
- Pode dizer, não vamos contar pra ninguém... -continuou a coordenadora num tom maternal- Eles não vão te fazer nenhum mal.
- Eu peguei as provas porque quis.
Aquilo era verdade. No entanto, o conteúdo das provas não visava ajudar a si mesma. Os amigos tinham metade dos boletins manchados de vermelho, como se o papel tivesse sido esfaqueado diversas vezes. Queria tê-los na mesma sala no ano seguinte, então era melhor que todos passassem. Pensando bem, tinha sido um roubo egoísta sim.
Seu plano era simples: entrar na sala dos professores, pegar as provas-matriz, fazer uma cópia de cada e sair de lá o mais rápido possível. Tinha escolhido atentamente o melhor momento para o ataque: terça-feira, às 10:20. Todos os professores estavam em aula e as tias da limpeza ajudavam a olhar as crianças do pré enquanto estavam no intervalo.
Tudo estava saindo de acordo com os planos, mas então a professora de português entrou na sala. Ela entrou ali sabendo que tinha alguma coisa errada. Os olhos se arregalaram quando encontraram os da aluna preferida. "Não é o que está pensando!!", a aluna pensou em dizer; mas aquilo só a deixaria com um aspecto ainda mais culpado e medíocre. Se tinha sido pega, era melhor enfrentar tudo de queixo erguido. Sabia que era arriscado... Foi justamente por isso que se ofereceu para aquele roubo. Se fosse pega, ficaria bem... Se os amigos - que já tinham a ficha bem suja com a direção - fossem pegos, talvez fossem até mesmo expulsos.
A coordenadora colocou as mãos na cintura e suspirou.
- Se fez porque alguém te obrigou, Helen... Pode dizer pra gente. Vamos tomar precauções para que ninguém mexa com você...
- Santo Deus! Estou dizendo que roubei porque quis! Eu... Eu queria notas melhores!
- Se você fez isso porque quis, espero que isso não se repita.
A professora de português soltou uma exclamação indignada.
- Tudo bem, não haverá punição. -disse a coordenadora- Acho que nossa aluna nem percebeu, mas estava segurando o pacote de provas da 5ª série. Refaremos as avaliações desse ano, de modo que ela não repasse informações para os amigos mais novos.
Helen deixou a boca abrir alguns centímetros. Aquele foi sua passagem de volta à sala.
- Deveria estar tão nervosa qu... -ouviu a voz da professora depois que saiu da sala.
Mal sabia ela que Helen havia copiado todos os arquivos num pendrive antes de tentar chegar ao pacote de provas da quinta série - a única que não conseguiu colocar no pendrive por falta de espaço interno. teve vontade de gargalhar, mas se controlou... Além de tudo, era uma ótima atriz.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

[creepypasta] [conto] O leitor número um

Tenho um blog há muitos e muitos anos. Não é um blog famoso e nem nada. Escrevo sobre os mais diversos assuntos, mas sem nenhuma obrigação de datas e horários. Tem época que posto textos todos os dias, mas em época que abandono a internet por um tempo.
Além do blog, tenho um canal no Youtube, uma conta no Facebook, Twitter, Instagram  e um Tumblr que não divulgo pra ninguém. O Tumblr retrata bem como é minha mente, então não gosto que os conhecidos fiquem vendo o que eu gosto ou deixo de gostar. São particularidades a serem compartilhadas com desconhecidos, gente de outro país que não sabe nada sobre você.
Mesmo com esse monte de coisa, eu não sou ninguém. Trabalho, pago minhas contas, escrevo uma coisinha aqui e outra ali, não encho o saco de ninguém e ninguém enche meu saco. Eu sou... Invisível.
Pelo menos é o que eu pensava até essa semana.

Durante um surto de megalomania com meu blog, criei um e-mail pra ele caso alguém quisesse entrar em contato comigo. Na mesma semana abandonei a idéia e nunca mais abri o tal e-mail. Isso faz três ou quatro anos.
Então, na semana passada eu me lembrei desse tal e-mail e resolvi dar uma checada. Estou de férias do trabalho e estou um pouco entediada, então essa tarefa inútil é justificável.
Para minha imensa surpresa, havia dezenas (quase centenas) de e-mails de um único cara. Não darei o nome real dele, então vamos chamá-lo de Alex.
O último e-mail não tinha título e o conteúdo dizia: “Vou te esperar, meu amor” e tinha uma imagem em anexo. Talvez fosse um vírus, então não abri.
O penúltimo e-mail se intitulava “Por favor”. Eu o abri e li: “Eu sei que você está lendo isso, minha querida... Eu sei. Por que não me responde formalmente? Por que não escreve para quem te ama tanto? Eu... Estou confuso. Sei que leu os primeiros e-mails porque você me respondeu de outras maneiras por muitas vezes, mas... Tem certeza? Fui criado em uma família cristã e dizem que as pessoas que se matam vão para o inferno. Eu não quero que você vá para o inferno, querida. Mesmo que seja para se unir a mim, eu não acho que o inferno seja o melhor lugar para o primeiro encontro formal. Eu te amo. Muito. Muito. Muito. Então, se tem certeza de que quer mesmo isso, não responda esse e-mail e desligue as luzes do seu quarto às onze horas da noite. Beijos molhados, Alex”
Aquilo me deixou assustada. O cara estava falando sobre se matar. E se ele estivesse confundindo minha conta de e-mail com a de outra pessoa? Oh, Deus... Tomada por uma ansiedade sem tamanho, pulei alguns e-mails e comecei a ler mensagens aleatórias que Alex tinha me mandado nos últimos dois anos.
 “Eu também montei minha árvore de natal essa semana. Ela é bem pequena, igual à sua. Decorei com bolinhas vermelhas e estrelas douradas. Acho muito fofo que você continue com os mesmos gostos de tantos anos atrás. Ouvi na semana passada quando sua mãe foi te visitar e disse isso. Aqui vai uma fotinho da minha árvore. Beijos, Alex”
Como diabos ele sabia disso?! Como DIABOS ele tinha ouvido minha mãe dizer alguma coisa?! Aquilo era impossível, cara... Enquanto pensava nisso, abri o anexo e uma foto meio escura se revelou. Era uma pequena árvore de natal IDÊNTICA à minha.  Aquilo fez com que eu começasse a tremer. Eu estava com medo.
...e ainda tinha mais dezenas de mensagens dele.
 “Abri sua correspondência hoje. Você anda gastando muito dinheiro com bobagens, querida. É o quarto par de sapatos que compra nos últimos dois meses. Não se preocupe. Fechei o envelope muito bem. Se quiser me deixar feliz, saia com o par laranja amanhã cedo. Ah, não beba mais vinho. Sei que está pensando naquele maldito Pedro.
Nesse momento me levantei da cadeira. Eu precisava de um copo d’água e de proteção. Tinha alguém observando minha vida de perto há meses! Como aquela pessoa sabia meu celular? Como aquela pessoa ABRIA minhas contas?? Como aquele cara sabia a cor dos meus sapatos? E o pior: como ele sabia quem era Pedro?!
Tinha que ser alguma brincadeirinha daquele panaca. Tinha que ser. Desci a barra de rolagem até o primeiro e-mail e olhei a data. Não... Naquela época eu nem conhecia o Pedro, então como ele poderia estar me pregando aquela peça assustadora?
Ao lado da data do primeiro e-mail, li o título “Olá :)”. Cliquei nele, meio que sem pensar no que estava fazendo. O texto era simples:
“Oi! Eu encontrei seus textos meio que por acidente e... Preciso dizer... Estou apaixonado! Você escreve tão bem, é tão engraçada... Bom, é isso. Só queria te dar os parabéns, moça”
Pulei para o segundo e-mail mais velho:
“Érh, oi de novo. Percebi que uma semana se passou e você não me respondeu. Fiquei um pouco chateado, sabe? É tão difícil encontrar uma pessoa que passa pelos mesmos dramas que a gente, que faz piadas com o que achamos engraçado... Uma pessoa como você. Eu sei que é estranho que um desconhecido te diga isso, mas eu sinto que a gente tem muito em comum. Podemos nos encontrar qualquer dia desses? Eu te pago um café”
Pulei alguns e-mails para cima, em direção aos mais novos.
“Baixei os áudios dos seus vídeos no Youtube e agora te escuto o dia todo. Até enquanto durmo, pra falar a verdade. Você é meu despertador, meu toque de celular... Gosto de te ouvir. Faça um vídeo novo logo, por favor. Hoje também achei seu Tumblr. Nossa, você é muito perfeita”
E outro:
“Amore, não posso mais viver assim sem respostas e sem te ver. Não queria isso, mas precisei fazer. Estou rastreando o IP do seu computador e achei seu endereço. Acredita que moramos relativamente pertinho? Eu vou tentar dar um jeito de te visitar”
Eu estava prestes a chamar a polícia, mas resolvi chamar o Pedro. Parte de mim queria que fosse uma brincadeira sem noção. Eu não iria chamar minha mãe para me ajudar em uma pegadinha. Mesmo que não falasse há meses com Pedro, ele disse que estava a caminho. Provavelmente minha voz estava bem assustada. Continuei lendo enquanto meu ex vinha me socorrer.
“Te vi sair de casa e te segui até o trabalho. Fiquei te esperando até o horário de ir pra casa, porque não queria que andasse por aí sozinha. Amanhã é domingo. Preciso que me dê uma prova de que está lendo isso tudo... Fique em casa. Eu saberei que está lendo minhas palavras. Com amor, Alex”
Aquele psicopata estava me seguindo até o trabalho há quase um ano e meio!
“Querida! Tenho boas novas. Adivinhe só... O apartamento ao lado do seu está sendo alugado! Vou tentar me mudar pra aí nessa semana mesmo”
“Quem é aquele cara que esteve aí hoje? Não gostei dele. Mas ouvi você rindo, e tenho que dizer... É o som mais lindo desse mundo. Hoje cedo ouvi você tomando banho. Fui até meu banheiro e me grudei na parede que me separava de você. Fiquei ali até quando você desligou o chuveiro”.
“Hoje o cara da NET foi arrumar uns fios aí na sua casa enquanto você não estava. Muita coragem deixar as chaves com o porteiro. Falei que eu era um vizinho, tinha esquecido umas coisas aí na sua casa e ele me deixou entrar... Seu cheiro está em tudo, minha querida. Instalei câmeras em todos os cômodos para poder te ver sempre”
“Você está me traindo!! Com as câmeras eu vi o que você e esse Pedro estão fazendo! Eu vou matá-lo! Vou fazê-lo sangrar como um porco! Eu vou acabar com ele! Ele não pode encostar a mão na minha garota! EU VOU ACABAR COM ELE.”
“Agora entendo, querida. Queria ver se eu teria ciúme, né? Eu tenho. Mas por que está me fazendo passar por isso? Se você me ama, ligue o aspirador de pó até domingo. Saberei que é só um teste que você planeja para que eu mostre minha dedicação. Te amo <3 o:p="">
“Você é igual todas as outras. Está brincando comigo... Está jogando com meus sentimentos. Eu deveria entrar aí na sua casa e te fazer em pedacinhos. Como pode ser tão cruel? Sabe de uma coisa? CANSEI. Mas não pense que vou desistir de você, amorzinho. Vou te levar comigo pra onde eu quiser”
“Deveríamos adotar um gatinho, o que acha? Durma de bruços para sim, de lado para não. Nunca te perguntei. Quer ter filhos? Coma um pedaço daquele chocolate ao leite para sim, coma o chocolate todo para não”
“Por favor, pare de se encontrar com esse Pedro. Ver vocês dois está me deixando louco. Segui o Pedro até a casa dele essa semana. Ele mora com os pais. Seria uma pena se o cachorro dele morresse envenenado, né? Sei que você gostaria disso. Sempre te ouço reclamar sobre os pêlos na roupa do Pedro. Também te escuto reclamar sobre a mãe dele.”
“Comecei a tirar fotos de você. Estou colando-as na parede aqui de casa para me sentir ainda mais próximo. Roubei umas fotos de quando você era criança lá da casa da sua mãe. Espero que não se importe”
“Poste uma foto nova no Instagram se me ama”
“O que você quer de mim, mi amor? Eu morreria por você. Acredita? Se sim, durma nua. Se não, durma coberta”
“Como pode não acreditar em mim, querida? Quer uma prova?”
“Você assistiu Titanic hoje e depois postou no Facebook uma imagem com a legenda “eu pulo, você pula, lembra?”. É sobre aquela conversa sobre morrer, não é? Quer dizer que também se mataria por mim? Se sim, durma de meias”
E agora eu estava de volta ao primeiro e-mail da lista. Aquele único que não tinha título. Eu voltei a ler suas palavras. “Fui criado em uma família cristã e dizem que as pessoas que se matam vão para o inferno”.
A foto em anexo parecia me desafiar. Respirei fundo e cliquei. A imagem que surgiu em minha tela me fez gelar. Era a foto de uma corda presa ao ventilador de teto... Pronta para alguém se enforcar.
Nesse exato instante alguém bateu na minha porta e eu quase morri do coração. Quando vi o Pedro, me desabei a chorar e mostrei todos os e-mails pra ele... Em seguida chamamos a polícia.

A polícia arrombou a porta do apartamento vizinho. Lá dentro encontraram a casa com as paredes completamente preenchidas com fotos minhas. O corpo de Alex estava em decomposição no quarto, pelo que me disseram.