sábado, 8 de março de 2014

A maldição


Acredito que palavras têm poder. Gosto delas. Mais que isso... Elas são um tipo de amante explícito. Todos sabem, todos enxergam, todos falam.
Acredito que elas tenham algum poder sobre o Universo e que se repetirmos as mesmas palavras muitas vezes, elas começam a ganhar outros significados. Significados esses muito mais complexos, muito mais profundos.
Associar palavras à pessoas se tornou algo comum. Não só por alguma situação que a palavra estivesse envolvida, algum trocadilho, alguma piada cretina... Não. As palavras começaram a grudar em algumas pessoas como se fossem músicas.
Todos temos músicas que associamos a outras pessoas, situações e lugares.
Isso começou a acontecer de alguns meses para cá e, devo admitir, é irritante. Gosto muito de ler e é incrível como as palavras de algumas pessoas se repetem o tempo todo.
Isso revive memórias. E memórias são um perigo.
Esses dias me peguei no pulo quando às 2 e pouco da manhã, estava lendo textos desnecessários. Eu deveria estar dormindo. Sim, eu deveria. Mas não, as palavras me levaram até ali para tomar um shot de memórias. Com um cubo de gelo, por favor.
Percebi algumas coisas que nunca tinha percebido. Havia uma espécie de mantra em todo texto, uma espécie de ordem que li e reli várias vezes... E essa “maldição” se instalou em minha mente.
Mas, como toda boa bebida, tomei o segundo e o terceiro shot. Li minha maldição mais uma dúzia de vezes. Fui dormir e percebi que aqueles três (ou seriam quatro? cinco? Dez?) shots tinham me deixado terrivelmente alterada.
Como todo bom bêbado, eu troquei nomes na hora errada. Palavras novamente. Minha maldição, minha bênção, meu amor, meu ódio, atração e repulsa, minha dose diária de vinho barato.
Meu celular tocou baixinho debaixo do travesseiro. Não poderia ser... Mesmo com as pupilas do tamanho de bolinhas de gude, eu precisava saber. Não era o passado, e sim o futuro.

(escrito em 14/2)

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